domingo, 11 de julho de 2010

A estética do espírito

O meu corpo já foi jovem, mas agora está em declínio. Os meus braços ainda gostam de abraçar, mas já não enlaçam como dantes. Perderam força. E estes seios, outrora túrgidos de seiva e de desejo, parecem agora duas bolsas vazias. No meu rosto as rugas são como as linhas de um livro, onde o tempo e a vida gravaram a minha história: amores, desamores, ilusões e desenganos. Aflições e desgostos, está tudo aqui, nestas finas linhas. Para quem souber ler.
Não obstante as rugas, gosto de mim desmaquilhada e sinto-me bem nua. Sem pudor da nudez, dos seios descaídos, dos quilos a mais, do perímetro abdominal avantajado e dos volumes nas coxas. Estou a envelhecer e aceito o processo. Não tento contrariá-lo em ginásios ou clubes de fitness. Também não me seduzem as curas de emagrecimento nem os milagres da cirurgia estética. Sei que virá o tempo em que o corpo não obedecerá à mente, mas é a vida e a lei do tempo. E é com o tempo que eu vivo, não contra ele. Nem seria feliz fora da minha idade. Por que venho à esteticista?
Não para me embelezar, o que seria tolice, pois a beleza é ser feliz. E a estética não seria capaz de apagar do meu rosto as marcas das noites sem sono e dos dias de sozinhice. Das decepções e dos desgostos. Venho cá porque a química dos elementos favorece a química dos afectos. E os afectos, os bons afectos, esses sim, fazem-me sentir bela em cada despertar.

OS MEUS LIVROS

  • Condomínio Abertlo
  • Famílias Tradicionais do Porto I
  • Famílias Tradicionais do Porto II
  • Os Borlububos e a dança das letras
  • Os Borlububos e os Sem-abrigo
  • Palavras Emagrecidas - rimas para contar e teatrar a nova ortografia