domingo, 11 de julho de 2010

Os RIOS correm para o mar

Chamo-me Douro.

Nasci há milhares de anos, lá para os lados de Espanha, e sou o irmão mais velho de uma família de rios.
Os meus irmãos mais novos uniram-se a mim e todos juntos somos agora um só, na alegria e na tristeza de existir. Porque a tristeza como a alegria também faz parte da vida de um rio.
Realmente é triste viver em constante correria, por gargantas e desfiladeiros, quantas vezes aos trambulhões, sofrendo a incompreensão dos homens.
É verdade que algumas vezes semeei luto e dor à minha passagem, galgando muros, violando propriedades, derrubando casas e destruindo haveres. Então ouvi imprecações e blasfêmias.
Mas que culpa tenho, se sou, como os homens, um ser da Natureza, positivo e negativo?Positivo, sim! Até os rios têm o seu lado bom. Porque nada e ninguém funciona exclusivamente para o mal.
Eu estou gloriosamente ligado aos descobrimentos portugueses e, ao longo dos tempos, tenho servido as diversões, o comércio e as tradições. Sobre mim passaram os barcos rabelos, as padeiras de Avintes e as excursões românticas. Mais: tornei-me mundialmente conhecido por, durante longos anos ter sido estrada do afamado vinho do Porto. Não esquecendo que fui amigo dos lavradores, cujas terras irriguei, bem como de outros tantos pescadores a quem não desanimei. E eles bem o sabem e, por vezes, até me abençoam. Nas horas más, porém, facilmente se esquecem disso e voltam a praguejar contra mim.
Ignoram que o seu sofrimento também me dói. Sobretudo pelas crianças e pelos velhinhos.
Mas olhem: a vida é uma lição permanente e, vivendo eu aprendi que tudo vale a pena. Até o sofrimento. Precisamente no meio do maior sofrimento eu descobri que ainda há solidariedade entre os homens, pois entre as populações ribeirinhas testemunhei que muitas famílias até então desavindas, fizeram as pazes e uniram-se de novo, para se auxiliarem mutuamente durante a tragédia

Afinal, vale a pena existir e ser rio, ainda que com um lado menos bom. Tal como os homens.

OS MEUS LIVROS

  • Condomínio Abertlo
  • Famílias Tradicionais do Porto I
  • Famílias Tradicionais do Porto II
  • Os Borlububos e a dança das letras
  • Os Borlububos e os Sem-abrigo
  • Palavras Emagrecidas - rimas para contar e teatrar a nova ortografia